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  • Myrna Brandão

Por dentro das palestras: Vivendo o Trabalho Subalterno

“Eu, o outro” – Um Retrato da Invisibilidade



No RH Rio Digital 2020, será apresentado o Painel “Vivendo o Trabalho Subalterno”, com os palestrantes Desembargador Marcelo Augusto Souto de Oliveira e o Juiz Roberto da Silva Fragale Filho, e moderação da Advogada Magda Hruza, Diretora da ABRH.

Antes das palestras, haverá a exibição de uma edição do documentário “Eu, o Outro”, dirigido por Maíra Libano e roteirizado pelo Juiz Roberto Fragale.

Antes de seguir com uma análise sobre o filme, torna-se importante lembrar que uma das principais funções de um documentário é estabelecer a representação do mundo, transferindo para a tela a intensidade de uma determinada realidade escolhida como tema. Essa função é plenamente atingida em “Eu, o Outro”.

A realidade retratada no documentário tem sua origem no Projeto “Vivendo o Trabalho Subalterno”, obra coletiva lançada em 2018, editada pela Escola Judicial do TRT – Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, que foi escrita pelos magistrados que participaram da atividade formativa do mesmo nome, bem como pelo professor da atividade, Fernando Braga da Costa, Psicólogo da USP. O livro narra as experiências vividas de onze juízes e um desembargador que passaram um dia como trabalhadores: caixas de supermercado, cobradores de ônibus, garis, auxiliares de limpeza e copeiros.


O documentário faz um recorte perfeito expresso naquele todo para narrar a veracidade de uma história. Cada recorte proporciona um ato reflexivo sobre a condição humana, expondo as críticas das relações sociais num mundo globalizado e injusto, como expresso pela fala de algumas entrevistadas, tais como:

De uma garçonete: “Não podemos errar – colocando açúcar para quem pede adoçante”, sabiamente exemplifica. Ou de uma faxineira do hospital: “A gente sabe o quanto é importante para o hospital para a limpeza, para desinfecção dos quartos.... Mas comumente a gente é vista como nada”, lamenta.

Outros recortes reforçam as assertivas que o documentário expressa como o depoimento do Juiz Roberto Fragale: “Nós só existimos nas interações. Uma coisa é saber como o outro é. Outra coisa é estar no lugar do outro. Queríamos encontrar uma forma de abrir portas, de diálogo. Mas, no desenvolvimento do projeto, eu aprendi muito mais com eles do que eles comigo. É preciso equilibrar essa troca, torná-la mais harmoniosa”, atesta.

Os conteúdos dos depoimentos explicativos e daqueles que retratam a invisibilidade são potencializados no ótimo roteiro do filme. Ele investe na dramaturgia narrativa, mas deixa alguns fatos em aberto para estimular a imaginação dos espectadores, uma proposta que instiga sem impor obstáculos à compreensão.

A câmera, por sua vez, se move de modo discreto e sem sobressaltos, buscando uma analogia entre o que está ocorrendo hoje e o que acontecia no passado e, em última análise, atestando que a necessária mudança de um quadro adverso de invisibilidade ainda não ocorreu.

Por sinal, um exemplo dessa invisibilidade pode ser visto agora por ocasião da Pandemia, com os trabalhos essenciais. Os valentes heróis saíam às ruas enquanto ficávamos protegidos em casa.

Mas no final, sobressai a esperança de que a ampliação do alcance do projeto “Vivendo o trabalho Subalterno” e as exibições desse filme que o documenta, possam contribuir para que essa mudança aconteça, sob o ponto de vista da vivência, da inclusão e da justiça.


 

Esse painel será imperdível, concorda?


Myrna é diretora da ABRH-RJ e está colaborando no comitê temático do RHRio 2.0.20. Comunicadora, cineasta e uma pessoa incrível, seus textos são tesouros que nos guiam e inspiram.

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